domingo, 1 de novembro de 2009

Linguagem Imprópria



É comum que algumas crianças apresentem um discurso caracterizado por uma linguagem imprópria, sempre que as incomodam ou não conseguem resolver o problema de outra forma, repetindo frases como: “Este macaco magoou-me” ou “Ele é um estúpido”.  Podem até mesmo chegar a incluir  no seu vocabulário palavras que causam, muitas das vezes , situações constrangedoras para os pais (ex: utilização repetida dos termos "cócó" e "xixi" em ocasiões inoportunas).

No seu livro: “A Criança e a Disciplina”, Brazelton (2006) refere que é preciso encontrar um meio-termo entre o silêncio e o exagero na reacção, de modo a não reforçar este tipo de linguagem. Caso contrário, as crianças repetem vezes sem conta e cada vez mais alto para captarem a atenção e testarem os adultos cuidadores. Por volta dos quatro/cinco anos, a criança começa a imitar a linguagem imprópria utilizada pelos amigos ou pais e tentam compreender as reacções dos adultos quando a empregam. De acordo com o autor supramencionado, o ideal é que os educadores não se incomodem, pois tudo não passa de uma experiência da criança para testar comportamentos vistos como proibidos. Normalmente, esta experimentação é fruto do desenvolvimento da criança, pelo que só se pode tornar um caso mais problemático quando a linguagem é demasiado explícita.
De seguida, enumero algumas estratégias para lidar com este tipo de situações em contexto de sala de aula:

- Não exagerar na reacção, apostando em frases como: “Não se utiliza essa forma de falar dentro da sala…nós não gostamos de ouvir esse tipo de linguagem”.

- Quanto menos atenção se prestar a esse acontecimento, melhor. Assim, a criança vai perder o interesse e tende a não repetir o comportamento – se a criança receber um estímulo, repete com o objectivo de obter a mesma reacção por parte dos adultos.

- É também importante verificarmos se a criança não estará apenas a imitar o vocabulário empregue pelas pessoas que a rodeiam.

- Muitas das vezes, as crianças aprendem umas com as outras, mas isso não é razão para que as afastemos. O que se pode fazer é mostrar à criança que isso incomoda as pessoas e levá-la a preocupar-se com isso mesmo.

- Se a linguagem imprópria persistir, o adulto pode demonstrar à criança que o seu discurso por vezes é ofensivo, clarificando o significado de algumas palavras e interrogando-a sobre se era mesmo isso que queria dizer. No caso de a resposta ser afirmativa, é importante que se procure perceber o motivo de raiva da criança, de forma a ajudá-la a ultrapassar esse comportamento.

Sinteticamente, é importante que o educador perceba que todas as crianças atravessam uma fase em que se sentem muito capazes de tudo e demonstram-no também com recurso a palavras pouco convenientes, como insultos proferidos com grande alegria, mas sem qualquer maldade. Pode-se afirmar que as crianças não entendem o significado real de alguns termos que proferem, mas o efeito que provocam nos adultos é o essencial para que os repitam continuamente. Deste modo, nunca devemos esquecer que, nestes casos, as ameaças e os castigos não servem de nada, apenas para incentivar a criança a reproduzir novamente todo o seu repertório em situações ainda mais constrangedoras.


1 comentário:

  1. Ola!
    Gostei muito de ler o que escreveste porque nas últimas semanas também me tenho confrontado com este género de situação e não sabia se a maneira como estava a lidar com o assunto era a mais correcta. Depois de ler o teu texto percebi que sim, que desvalorizar é o melhor a fazer (e é isso que tenho praticado!).
    Bjinhos e boas práticas ;)
    Ana Isa

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