“Sempre me interroguei, quando ensino, se é correcta a
permissividade ou a inflexibilidade totais. A maior parte dos pais sabem, por
instinto e amor, que uma criança não dever ser batida. Também sabem que não
deverão deixar as crianças completamente selvagens e descontroladas. Onde é que
fica a linha?
Eu sei bem deste dilema. Várias vezes balanço entre
permissividade e proibição. O resultado é que às vezes deixo-me subjugar pelas
crianças, e outras, sou eu que as subjugo. Ambos os métodos são ineficazes. Com
os anos e a experiência percebi que existem várias regras de ouro:
1. não se pode CONTROLAR UM
SER.
2. SÓ PODEMOS E DEVEMOS
CONTROLAR OS COMPORTAMENTOS DA CRIANÇAS, A FIM DE OS TORNAR NO MAIOR BEM PARA
TODOS. (controle é simplesmente: Começar - Mudar - Parar ou Terminar.
Não é o mesmo que subjugar, reprimir …não é. É estar ao leme do barco e leva-lo a bom
porto).
3. Quando ACHAMOS QUE A
CRIANÇA É “O CENTRO DE TUDO”, E QUANDO OLHAMOS apenas para os seus desejos,
PODEMOS ESTAR A ARRUINAR O SEU FUTURO.
4. as crianças são seres, QUE
apenas não têm experiência DE UM ADULTO NEM tamanho de corpo...
Ao tentarmos controlar um ser, em vez do seu
comportamento, perdermos sempre, porque ele nunca desistirá de tentar fazer o
que quer. Se, contudo, nós o continuarmos a parar, ele degenerará, nas suas
tentativas para exercer a sua liberdade de escolha.
Só controlando o seu comportamento, reactividade,
birras, desequilíbrios, falta de rigor e, ensinando-a a controlar-se é que nós
podemos pôr a pessoa a mandar nela mesma e no ambiente. Esse é o caminho para a
verdadeira liberdade.
Toda a disciplina deverá ser dirigida para o propósito
último de ajudar a criança a aprender a praticar a autodisciplina e com isso
ser mais fácil a sua própria vida e a dos outros. Isto é o que distingue o
homem civilizado do arrogante e egoísta. A criança tem que ser educada a
pensar, “…que os outros também têm umbigo…”. Se uma criança anda ruidosamente
dentro e fora e isso interfere com uma conversa, um trabalho ou o sossego,
deverá ser-lhe dito para brincar noutro lugar, mas se não o houver, deverá
parar até que o possa fazer. Não a recompense por fazer uma balbúrdia.
Muitas vezes damos à criança um presente ou
prometemos-lhe algo, não para a educar, mas para nos deixar em paz. Isto leva-a
a pensar: “- sou recompensado se causar bastantes problemas e confusões …”. Não
o suborne nem tente raciocinar com a irracionalidade. O irracional não é
razoável, em primeiro lugar. Seja eficaz e resolva rapidamente o problema ou
conflito; senão, a criança sentirá logo que o lado “irracional” é maior que nós
ambos.
Quando cortamos o comportamento incorrecto, não
estamos a ferir o ser. Estamos a fazer-lhe um favor. Estamos a mostrar-lhe que
esse lado reactivo e descontrolado pode ser controlado por ele mesmo. Ele
ficará um dia grato por isto e ouvi-lo-á ostentar orgulhosamente que nunca lhe
permitiram prosseguir com tal conduta.
A diferença entre comportamento controlado e
descontrolado pode ser ensinada a uma criança de três anos.
A criança só deve ser recompensada quando, por
exemplo: (recompensa não quer dizer só material, pode ser um mimo, uma atenção,
etc.):
· Ajuda
nos trabalhos da casa,
· Responde
alegremente a um pedido,
· Supera
um problema,
· Oferece
ajuda,
· Tem
ideias criativas,
· Adquire
uma nova capacidade,
· Contribui
para o prazer e a boa sobrevivência de toda família.
Eu tenho constatado que este sistema reduziu
drasticamente as minhas próprias frustrações como educadora.
Nunca deveremos penalizar uma criança por quebrar
regras que não estão claramente definidas, nem manter regras variáveis para
satisfazer os nossos caprichos. Logo, qualquer que seja o sistema de disciplina
que use, informe a criança do que se espera dela.
É preciso dizer as regras todas as manhãs, todas as
noites durante uma ou duas semanas para lhas incutirmos. A partir daí, quando
houver qualquer transgressão, simplesmente devemos dizer: “falhaste tu mesmo!”.
“De cada vez que falhas, quebras a regra ou não fazes o que deves é uma derrota
para ti mesmo”, “Foste vencido, não venceste”.
Adicionar conversa só atrasa o próprio esforço da
criança. Ela já sabe a regra, só está a tentar desculpar-se para não fazer. Mas
lembre-se, este combate não é contra o seu filho, ele mesmo.
Depois de qualquer fiasco particularmente penoso,
deixe o ar arrefecer alguns minutos e encontre uma razão válida para
recompensar a criança. Note alguma coisa que ela fez bem, ou dê-lhe um pequeno
trabalho. Isto põe a atenção dela, e a sua, no lado bom das coisas.
A promessa de uma recompensa é mais eficaz do que a
ameaça de um castigo. Poderia dizer: “limpa a casa de banho, senão amanhã ficas
em casa”.
Obteremos melhores resultados se dissermos: “há uma
fornada de biscoitos à tua espera quando acabares de a limpar”.
Há muitos convites para arbitrar as batalhas das
crianças, não caia nessa armadilha. Quando “a vítima inocente” tentar
convencê-la de que é inocente, nesse momento pergunte: “o que é que fizeste para entrares em
apuros?” Ou: “o que é que podias ter feito para evitar isso?”. Isto é praticamente
infalível; é algo que eu já confirmei nos últimos trinta anos!
É necessário um alicerce de boa comunicação com uma
criança, porque, quer queiramos quer não, é a base de tudo o que funciona bem.
Boa comunicação não é deixar a criança argumentar, argumentar, com o único
intuito de não fazer o que deve. Boa comunicação é explicar uma ideia, ou ordem
ou o que for, ouvir as dúvidas ou as questões… e segue em frente…
Logo que nasce um bebé, deverá começar por falar com
ele, directa e frequentemente. Logo a seguir ao seu nascimento apresente-se a
ele. Familiarize-o também com o resto da família e o ambiente. Isto pode
parecer uma sugestão absurda, mas se não o tentou não o ponha de parte.
Logo, mesmo que não acredite que um recém-nascido o
compreende, lembre-se que não está a tratar com um peru morto, até estes, uma
vez vivos, podem comunicar. Há um ser, e todo o ser quer comunicação.
Dirija-se ao bebé numa linguagem clara e digna. Embora
deva haver tempo para brincadeiras e tolices, os “chiribibis” e “gibberis”
incoerentes deveriam ser guardados para o periquito.
As crianças incluídas numa abundância de comunicação
estarão mais contentes e aprenderão a falar mais cedo e melhor, por causa
disso.
Quando uma criança começa a fazer perguntas, (é
inevitável - ela vai fazê-las), responda-lhe honestamente. Não seja vago, ou
engenhoso, à custa dela.
Há muito mais a dizer sobre comunicação, porque ela se
entremeia em cada faceta da formação das crianças e vou enfatizar uma parte
disso:
- Um reconhecimento é simplesmente uma maneira de
fazer outra pessoa saber que a ouvimos ou que notámos alguma coisa que ela fez.
Pode ser simplesmente: “Isso é bonito”, “OK”, ou “Compreendo”, ou
“Está bem”, ou
“Obrigada”. Qualquer palavra bastará para que a outra pessoa saiba que a
ouvimos ou que notámos o que ela realizou ou disse.
O hábito de comunicação civilizada é induzido através
do exemplo. Eu vejo alguns pais a dar ordens às crianças, uma após a outra, sem
nunca a reconhecerem quando é executada.
Sob tais circunstâncias, uma criança pode construir
uma indiferença total às instruções parentais.
Porquê? Para ele a vida tornou-se um fluxo contínuo de
“começos” sem “paragens”.
Se lhe dá uma ordem, garanta que é levada a cabo.
Esta é outra parte importante para a ajudar a terminar
ciclos. Se deixar uma criança discutir para fazer alguma coisa, obterá mais
discussões de cada vez que lhe pedir que o faça no futuro. Se descurar que uma ordem seja levada a
cabo, obterá desobediência manifesta e cada vez mais incapacidade para fazer
coisas no futuro. Nós todos conhecemos pessoas adultas que não são capazes de
trabalhar, de terminar tarefas, de terminar a comida do prato, saber estar à
mesa… porque em crianças ninguém lhes exigiu isso.
Exemplo: os brinquedos estão espalhados por toda a sala e a mãe lhe diz para os
apanhar e pô-los na caixa. A criança ignora a ordem e não o faz. A mãe sai
durante algum tempo da sala. Depois volta e ainda lá encontra os brinquedos. Se
ela própria os apanha, acaba de perder uma das batalhas mais importantes na
educação. Este momento de fraqueza custará, mais tarde, horas de frustração
para a criança, para o seu futuro e para nós.
O que há a fazer? Entrar em boa comunicação, conversar
um minuto ou dois antes de lhe pedir outra vez para meter os brinquedos na
caixa. Continue até o trabalho ser feito. Sob nenhuma circunstância se deverá permitir que a acção fique por completar.
Se a criança não está habituada a obedecer, a mãe
deverá pegar-lhe na mão, levá-la a pegar no brinquedo, mete-lo na caixa e
dizer-lhe: “obrigada”. Isto deverá ser continuado até que a criança assuma a
acção. Garantir que as instruções são levadas a cabo, pode exigir paciência, mas esta persistência inicial economizará,
em última instância, muito desgaste no seu sistema nervoso.
Se
disser a uma criança que vai sair e ela chora, saia na mesma. A maior parte das crianças param de chorar assim que o carro sai da
garagem. Tal comportamento significa que foi imprevisível no passado, ou a
criança pensa que se chorar o fará mudar de ideias.
É de longe melhor fazer saber a uma criança que ela é
responsável pela sua própria vida do que continuar a fazer montes de regras
incumpríveis para governar a sua conduta.
Às vezes sou surpreendida, a ouvir pais de
adolescentes, que ainda gritam, dão conselhos e advertências que só se fazem
durante a infância. Pais que insistem em dizer aos adolescentes quando se devem
assoar, usar as luvas, como se sentar à mesa, deixar a casa de banho limpa,
etc. São assuntos que na adolescência já deviam estar resolvidos. Quanto mais
cedo se começarem a resolver, melhor é para eles. Menos problemas terão,
garantidamente!
O julgamento vem de se aprender por experiência. A
responsabilidade é desenvolvida gradualmente, dando à criança coisas para
fazer.
Uma vez que uma criança escolha (ou lhe seja dado a
escolher) um trabalho, não permita que ninguém lho tire. Ela precisa de o terminar a fim de
desenvolver a responsabilidade de concluir os ciclos. Isto
construirá gradualmente a sua confiança.
Eu acho as crianças extremamente boas na aplicação
prática dos dados que lhes são dados, raramente estão interessadas em
“fantasias” que soam a “filosofia”, mas que nada tem a ver com filosofia. Ao
invés, elas insistem em exemplos. Elas querem ver que uma ideia funciona. Como
resultado disto, podem olhar para muitas situações da vida e depressa as avaliar.
Se leu tudo, obrigada e se lhe serviu de alguma coisa,
ainda melhor."
São
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