domingo, 10 de outubro de 2010

A Folha


     Folha







 







Um ponto












  de vista …

Impõe-se um desabafo quanto ao facto de ter sido posto como hipótese, os alunos não reprovarem na sua trajectória escolar. Não sei se vai ser posto em prática, mas foi apresentado como hipótese à comunicação social.
A justificação para este procedimento tem a ver com os países nórdicos onde dizem não se chumba.
É claro que conheço alguns desses países (Bélgica, Holanda e Dinamarca). Todos eles já navegaram por muitas incertezas e uma delas teve a ver com o chumba, não chumba, passa, não passa.
Neste momento, por exemplo, na Bélgica, cada escola tem o seu próprio regulamento. Há escolas onde não se chumba até ao 9º ano, sendo que nessa altura têm que optar: ou seguem a via dos cursos técnicos ou são submetidos a exames a fim de poderem prosseguir. É interessante salientar que os estabelecimentos de ensino, cujo regulamento lhes permite prosseguir sem chumbos, estão com a sua frequência em declínio, correndo o risco de fechar. Acresce ainda que os alunos desses estabelecimentos não são aceites nos cursos técnicos e muito menos no mundo do trabalho. Para além da ignorância são hábitos de trabalho que não foram adquiridos. E mesmo assim estamos apenas a falar de questões de tecnocracia e não de princípios/valores.
Quanto mais estudo sobre a questão do ensino/educação menos percebo o que se está a passar. E não é apenas um problema de Portugal, é, pelo menos, um problema europeu. É que os manuais e os programas estão feitos para levar os alunos “a não pensar”. Não se pensa, põem-se “cruzes”e não se investigam as causas, ficamo-nos pelos efeitos; não se pedem explicações, são lhes indicadas…
Depois temos esta mania incurável de só importar o facilitismo e o inaplicável (“o nosso eternos vicio de ser provincianos, “lá fora é que é bom…” F. Pessoa). Cada país, cada povo tem as suas características e especificidades, não somos todos iguais. Nos países do Norte que tanto “admiramos” não há só rosas, também há espinhos… conheço alguns grandes e muito bicudos…  
Depois há verdades que fazem parte da existência humana que são comuns às civilizações, às quais não podemos fugir, que são as dicotomias *:



 (* dicotomia quer dizer: “divisão de um conceito em dois, normalmente opostos, por exemplo”: alto/baixo, noite/dia, macho/fêmea).
 
 
justiça/injustiça, decência/desonestidade, pudor/descaramento, trabalhador/pária, dedicação/laxismo, boa educação/má educação, etc., estas são o conjunto de dicotomias mais importantes. Creio, embora posso estar enganada, que sem o exercício exemplar destes valores e sua defesa, nenhuma civilização poderá aguenta-se. Sabemos isto da história.
Face ao exposto, como é que se distingue umas coisas das outras, se queremos tudo igual? Como é que uma criança trabalhadora, dedicada, bem-educada, honesta e desejosa de saber, vai querer continuar a sê-lo? Que motivação tem? Como é que um professor justo, decente, trabalhador e dedicado vai ter gosto no que faz? Quais são os exemplos e modelos?
As desigualdades, puramente incapacitantes, não são resolvidas do mesmo modo, que os patamares standards. Então porque é que temos que passar todos os alunos? Uns deverão passar outros não, sendo que, os que não passam, deverão ter tratamento, também de modo diferenciado, porque nem toda a gente chumba pelas mesmas razões. Porque é que a miséria e a desgraça (independentemente da sua origem) nos têm que servir de exemplo e de modelo. Se isso é um modelo, porque é que o queremos erradicar e não o adoptamos como modo de vida?
A incapacidade pura e honesta tem ser elevada à categoria de todas as possibilidades e oportunidades, mas tem que ser uma incapacidade e não um modo de estar na vida…
“Há assuntos sobre os quais não podemos ser populares e este dos valores é um deles, senão corremos o risco de ser medíocres” (Oscar Wilde)
Inteligência é sinónimo de capacidade para diferenciar, ao invés, igualizar significa falta de inteligência e estupidez. Temos que ser todos tratados de forma DIFERENTE, NADA/NINGUÉM É IGUAL!
Andamos preocupados com as finanças e a economia, mas isso são efeitos do problema e não a causa. Para mim, é seguro que se educarmos as crianças no sentido da honestidade, da decência, da lealdade, da amizade e do respeito, o económico/financeiro estaria resolvido por natureza. Imagine-se, por milagre, que a maioria das pessoas (empresários, funcionários, governo, jovens, velhos, todos) ficava aplicada, verdadeira, JUSTA, trabalhadora, honesta, solidária e dedicada, garanto que o problema económico/financeiro desapareceria.
Para vivermos minimamente em paz e com algum conforto, teríamos que ter uma civilização e o que temos não o é. Porque o verdadeiro conforto e paz advêm da vivência civilizacional que NÃO tem como objectivo primeiro o económico/financeiro, mas sim a ÉTICA; todo o resto vem por acréscimo. Uma civilização tem pressupostos que estão rigorosamente definidos; é só segui-los.
(Civilização: …”conjunto dos conhecimentos e realizações das sociedades humanas, marcadas pelo desenvolvimento intelectual, económico e tecnológico…visando o mais alto bem estar das pessoas e bens; perfeição do estado. Sociedades avançadas do ponto de vista cultural, intelectual… Civilizar é polir e educar;

É claro que me vão dizer, que “estás as ser antiquada…”, “estás fora de tempo”. Quanto a mim, há coisas que não mudam… existem há tanto tempo quanto a humanidade, sendo que a NECESSIDADE de JUSTIÇA é a mais IMPORTANTE e a mais ANTIGA, e que a capacidade para descobrir e distinguir é o único garante da nossa liberdade de seres pensantes.

São

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