sábado, 11 de setembro de 2010

Adaptação


"O primeiro dia…
O coração palpita mal o clique informático do “sistema nervoso pensativo e instintivo materno” ressoa de alto a baixo nas instalações do corpo. Parece não haver controlo, ele vai e vem cada vez com mais fúria e factualidade, à medida que a data se aproxima. E a data…aquele dia no calendário tão diferente de todos os outros, tem um brilho provocante e zombeteiro, condensando num número memórias, desejos, receios e ambições. Um número…tanto poder. Anda-se para a frente a para trás e lá está ele no frigorífico a provocar e a não se fazer esquecer.
Com passadas pesadas de quem não tarda e jamais se abala, ele vem mal bate a meia-noite e sem abóboras e varinhas de condão que deixem o João Pestana chegar. Nasce o dia do teu primeiro dia…do meu primeiro dia…do nosso primeiro dia. E como o vemos de forma diferente. É de certa forma o primeiro dia do resto da tua vida, que te sorri e abre caminho a outros colos, a outros mimos e outros amores. E é, sem que eu deseje que seja, o primeiro dia do resto da minha vida, de uma síndrome de ninho vazio, de um medo avassalador de abrir os braços para o mundo e te deixar caminhar e no fundo, mais uma vez, de ser mãe.
Irás para a escola, mas mais parece que sou eu que tenho muito a aprender, que preciso de respostas para as minhas perguntas tontas e que preciso de colo para acalmar e conter os meus medos. Entrego-me ao entregar-te, mas sem te deixar tão pouco te abandonar, pois nunca deixarei de olhar para trás mesmo gota a gota a visão se turve e mesmo que venha uma em enxurrada.
Será um dia longo, em que pensarei em ti ininterruptamente e tu pensarás em mim? Conto os segundos, os minutos e as horas sem que estes pareçam passar. Gasto os olhares para o relógio, já não tenho mais saldo para chamadas e não sei se mais alguém saberá o que sinto agora.
Mas no fundo…é o teu primeiro dia de escola e não imaginas como estou...
orgulhosa de ti".

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